Aleijadinho e os profetas de Congonhas do Campo em Minas Gerais
No século XVIII, com a descoberta de jazidas de ouro na região de Minas Gerais, esta tornou-se das mais ricas de sua época em todo mundo. Uma região, em particular, denominada Ouro Preto, antiga Vila Rica, conheceu a partir de então grande desenvolvimento econômico responsável pela atração de grande número de aventureiros. A cidade foi crescendo em meio a uma belíssima paisagem na qual começaram a despontar templos religiosos de diversas invocações desde as primitivas capelas até monumentais igrejas de irmandades religiosas, as quais, aos poucos, surgiam destacando-se na topografia em discreta competição impulsionada pelas diferentes irmandades leigas.
É necessário recordar a proibição do estabelecimento de ordens religiosas na região, fato inteiramente relacionado ao desenvolvimento de irmandades leigas. Com isso, uma salutar competição foi se estabelecendo e estimulando o surgimento de artistas cujos méritos foram referência na história da arte no Brasil, notadamente do período Barroco.
Dentre todos os artistas dessa época, notabilizou-se Antônio Francisco Lisboa, um artista que por defeito físico, que superou admiravelmente, passou à história com a alcunha de “O Aleijadinho”.
Um tipo de rocha, com textura fibrosa, untuosa ao tato, composta essencialmente de talco, denominada pedra-sabão, com grande ocorrência na região central de Minas Gerais, foi o material com o qual o Aleijadinho adquiriu notoriedade. Um historiador chegou a afirmar que “Aleijadinho introduziu a pedra sabão na arquitetura mundial”.
O conjunto arquitetônico do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas do Campo é certamente a obra que celebrizou o Aleijadinho.
Para o adro do conjunto se previu a uma engenhosa implantação de esculturas representando os profetas do antigo Testamento.
“Com os profetas, o Antigo Testamento alcança o ápice, seja como valor espiritual absoluto, seja como preparação para o Novo Testamento. Os profetas eram homens que Deus investia diretamente do seu espírito para uma missão espiritual no seio do seu povo, em tempos de perigo ou de necessidade religiosa e moral. Tornavam-se assim guias espirituais do povo de Israel, pelo mesmo título com que outrora os juízes suscitados por Deus eram chefes políticos e militares, os libertadores no tempo de aflição. [...] os profetas escritores são os profetas cujos vaticínios ou mensagens nos foram transmitidos por escrito. Estes últimos costuma-se dividi-los, com base na extensão de seus escritos, em duas categorias: Profetas Maiores e Menores. Os primeiros são, por ordem cronológica, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Os Menores, em número de doze, foram por algum tempo reunidos num só volume, em ordem aproximadamente cronológica, ou, ao menos, na que era julgada tal” (Bíblia Sagrada, 1980, p.794)
São figuras que falam às montanhas com seus gestos dramáticos e delineiam-se fortemente contra o céu límpido. Carregados de energia, os gestos dos profetas são essenciais em toda obra do Aleijadinho. Suas posturas evocam sua identidade associada ao fato de que cada profeta segura um filactério com inscrição em latim que reafirmam sua identidade.
O adro de Congonhas notabiliza-se pelo vigor de seu volume e pela hábil movimentação de sua escada onde os profetas conheceram uma engenhosa implantação, não produziriam o efeito que conhecemos, fossem os profetas dispostos no mesmo plano. Em Congonhas, cada figura foi concebida para uma posição no adro, o que dá ao conjunto unidade e força.
Prof. Dr. Benedito Lima de Toledo é arquiteto e urbanista, FAU-USP.
Anjo com hóstia (c. 1860), Sébastien-Melchior Cornu (18041870)
Desde 12 de dezembro de 1848 o Palácio do Eliseu serve como residência oficial ao presidente da república francesa. O Príncipe- Presidente Louis-Napoleon, que viria a ser o imperador Napoleão III, lá se instalou em 20 de dezembro de 1848. Ali desenvolveu um suntuoso projeto de embelezamento, construindo uma capela ricamente decorada. Um século mais tarde, em 1947, o presidente Vincent Auriol acabou com a capela, substituindo-a por dois escritórios. As pinturas que adornavam suas paredes foram transferidas para o Museu do Louvre, onde ainda podem ser admiradas até hoje. No entanto, quando, em 1959, Charles de Gaulle se tornou o décimo oitavo presidente da República Francesa, ele converteu de novo um dos escritórios numa capela muito simples. Católico fervoroso, o “General” fielmente ia até ela para rezar e participar da missa, muitas vezes celebrada por seu sobrinho, o padre François de Gaulle. Finalmente, em 2007, o presidente Nicolas Sarkozy suprimiu definitivamente a capela, transformando-a em sala de espera de seus visitantes.
A capela de 1848 foi decorada por um dos melhores alunos de Ingres, Sébastien-Melchior Cornu. Este anjo apresentando uma hóstia foi originalmente colocado acima da porta de saída. Lembra o Lauda, Sion, a sequência da solenidade de Corpus Christi escrita por São Tomás de Aquino: “Eis aqui o pão dos anjos, dado em viático aos homens que estão a caminho” (em tradução livre do original francês). Tinha, assim, por função lembrar o viático necessário àqueles que, tendo feito suas devoções, estavam voltando para os assuntos do mundo. Da mesma forma como os hebreus foram alimentados com o maná, o pão dos anjos, durante a sua travessia do deserto do Sinai, o mesmo acontece com aqueles que se tornaram filhos de Deus, através do batismo, ao longo da sua peregrinação terrena: são nutridos pelo Pão vivo que desceu do céu. Mas, a cruz marcada sobre a hóstia ressalta a diferença essencial: enquanto o maná sustentava a vida que continuou perecível, o verdadeiro Pão dos cristãos sustenta a Vida que se transfigurará em Vida eterna.
No século XVIII, com a descoberta de jazidas de ouro na região de Minas Gerais, esta tornou-se das mais ricas de sua época em todo mundo. Uma região, em particular, denominada Ouro Preto, antiga Vila Rica, conheceu a partir de então grande desenvolvimento econômico responsável pela atração de grande número de aventureiros. A cidade foi crescendo em meio a uma belíssima paisagem na qual começaram a despontar templos religiosos de diversas invocações desde as primitivas capelas até monumentais igrejas de irmandades religiosas, as quais, aos poucos, surgiam destacando-se na topografia em discreta competição impulsionada pelas diferentes irmandades leigas.
É necessário recordar a proibição do estabelecimento de ordens religiosas na região, fato inteiramente relacionado ao desenvolvimento de irmandades leigas. Com isso, uma salutar competição foi se estabelecendo e estimulando o surgimento de artistas cujos méritos foram referência na história da arte no Brasil, notadamente do período Barroco.
Dentre todos os artistas dessa época, notabilizou-se Antônio Francisco Lisboa, um artista que por defeito físico, que superou admiravelmente, passou à história com a alcunha de “O Aleijadinho”.
Um tipo de rocha, com textura fibrosa, untuosa ao tato, composta essencialmente de talco, denominada pedra-sabão, com grande ocorrência na região central de Minas Gerais, foi o material com o qual o Aleijadinho adquiriu notoriedade. Um historiador chegou a afirmar que “Aleijadinho introduziu a pedra sabão na arquitetura mundial”.
O conjunto arquitetônico do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas do Campo é certamente a obra que celebrizou o Aleijadinho.
Para o adro do conjunto se previu a uma engenhosa implantação de esculturas representando os profetas do antigo Testamento.
“Com os profetas, o Antigo Testamento alcança o ápice, seja como valor espiritual absoluto, seja como preparação para o Novo Testamento. Os profetas eram homens que Deus investia diretamente do seu espírito para uma missão espiritual no seio do seu povo, em tempos de perigo ou de necessidade religiosa e moral. Tornavam-se assim guias espirituais do povo de Israel, pelo mesmo título com que outrora os juízes suscitados por Deus eram chefes políticos e militares, os libertadores no tempo de aflição. [...] os profetas escritores são os profetas cujos vaticínios ou mensagens nos foram transmitidos por escrito. Estes últimos costuma-se dividi-los, com base na extensão de seus escritos, em duas categorias: Profetas Maiores e Menores. Os primeiros são, por ordem cronológica, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Os Menores, em número de doze, foram por algum tempo reunidos num só volume, em ordem aproximadamente cronológica, ou, ao menos, na que era julgada tal” (Bíblia Sagrada, 1980, p.794)
São figuras que falam às montanhas com seus gestos dramáticos e delineiam-se fortemente contra o céu límpido. Carregados de energia, os gestos dos profetas são essenciais em toda obra do Aleijadinho. Suas posturas evocam sua identidade associada ao fato de que cada profeta segura um filactério com inscrição em latim que reafirmam sua identidade.
O adro de Congonhas notabiliza-se pelo vigor de seu volume e pela hábil movimentação de sua escada onde os profetas conheceram uma engenhosa implantação, não produziriam o efeito que conhecemos, fossem os profetas dispostos no mesmo plano. Em Congonhas, cada figura foi concebida para uma posição no adro, o que dá ao conjunto unidade e força.
Prof. Dr. Benedito Lima de Toledo é arquiteto e urbanista, FAU-USP.