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Eis o pão do anjos

Pierre-Marie Dumont

Ilustração da Capa

D

esde 12 de dezembro de 1848 o Palácio do Eliseu serve como

residência oficial ao presidente da república francesa. O Príncipe-

Presidente Louis-Napoleon, que viria a ser o imperador Napoleão

III, lá se instalou em 20 de dezembro de 1848. Ali desenvolveu

um suntuoso projeto de embelezamento, construindo uma ca-

pela ricamente decorada. Um século mais tarde, em 1947, o

presidente Vincent Auriol acabou com a capela, substituindo-a

por dois escritórios. As pinturas que adornavam suas paredes

foram transferidas para o Museu do Louvre, onde ainda podem

ser admiradas até hoje. No entanto, quando, em 1959, Charles

de Gaulle se tornou o décimo oitavo presidente da República

Francesa, ele converteu de novo um dos escritórios numa capela

muito simples. Católico fervoroso, o “General” fielmente vinha até

ela para rezar e participar da missa, muitas vezes celebrada por

seu sobrinho, o padre François de Gaulle. Finalmente, em 2007,

o presidente Nicolas Sarkozy suprimiu definitivamente a capela,

transformando-a em sala de espera de seus visitantes.

A capela de1848 foi decorada por um dos melhores alunos

de Ingres, Sébastien-Melchior Cornu. Este anjo apresentando uma

hóstia foi originalmente colocado acima da porta de saída. Lembra

o

Lauda, Sion

, a sequência da solenidade de Corpus Christi escrita

por São Tomás de Aquino: “Eis aqui o pão dos anjos, dado em viáti-

co aos homens que estão a caminho” (em tradução livre do origi-

nal francês). Tinha, assim, por função lembrar o viático necessário

àqueles que, tendo feito suas devoções, estavam voltando para os

assuntos do mundo. Da mesma forma como os hebreus foram ali-

mentados com o maná, o pão dos anjos, durante a sua travessia do

deserto do Sinai, o mesmo acontece com aqueles que se tornaram

filhos de Deus, através do batismo, ao longo da sua peregrinação

terrena: são nutridos pelo Pão vivo que desceu do céu. Mas, a cruz

marcada sobre a hóstia ressalta a diferença essencial: enquanto o

maná sustentava a vida que continuou perecível, o verdadeiro Pão

dos cristãos sustenta a Vida que se transfigurará em Vida eterna.

n