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São José de Anchieta

José Maria Mayrink*

Previa o futuro, curava doentes, controlava animais fero-

zes, dominava as ondas do mar, afastava tempestades e

até “ressuscitou” um morto – na verdade, reanimou um

menino enterrado vivo – conforme relatos de testemunhas

da época. O missionário José de Anchieta, que morreu em

1597 com fama de milagreiro, poderia ter sido logo procla-

mado santo sem necessidade de fazer mais milagre nenhum,

mas só chegou aos altares quatro séculos depois, por inter-

venção direta de João Paulo II, que o beatificou em 1980,

e de Francisco, que o canonizou em 2014. Nos dois casos,

com a dispensa de comprovação de um milagre. A causa

de beatificação e canonização, aberta poucos anos após

a morte de Anchieta, foi interrompida e retomada várias

vezes, numa delas por causa da suspensão da Companhia

de Jesus, à qual ele pertencia.

Por que exigir provas de um milagre, conforme as nor-

mas da Congregação das Causas dos Santos, se o Apóstolo

do Brasil sempre foi considerado santo pelo povo, como

demonstra a devoção de fieis em todos os cantos do país?

O padre jesuíta César Augusto dos Santos, que nos últimos

anos atuou como vice-postulador no processo de canoniza-

ção, em Roma, reuniu dezenas de depoimentos sobre graças

e supostos milagres atribuídos à intercessão de Anchieta,

mas não conseguiu apresentar um caso de cura capaz de

convencer o Vaticano. “Tem de ser uma cura que a medi-

cina não possa explicar, mas isso se torna cada vez mais

difícil, porque, à medida que a ciência avança, muita coisa

que antes se considerava milagre agora é atribuída à eficá-

cia de tratamentos”, observou em agosto de 2007.